Buenos Aires explode em aplausos por Maradona

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Esporte

26 de novembro de 2020 às 06h25

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Fãs se reuniram em diferentes locais para prestar homenagens ao craque

 

Os argentinos fizeram soar aplausos, buzinas e sirenes, enquanto as luzes dos estádios foram acesas nesta quarta-feira, 25, às 10h da noite, em homenagem ao eterno camisa 10 Diego Maradona, que morreu de parada cardíaca aos 60 anos.

“Aplaudimos às 10 horas da noite, aplausos às 10, porque merece um aplauso final”, dizia uma mensagem que circulou mais cedo nas redes sociais. Os aplausos ressoaram à noite em todos os bairros da capital argentina.

No estádio Diego Maradona do clube Argentinos Juniors, onde Maradona começou sua carreira futebolística na infância, foram lançados fogos de artifício em sua homenagem.

 

No estádio Diego Maradona, do clube Argentinos Juniors, onde o craque começou sua carreira, foram lançados fogos de artifício em sua homenagem | Fotos: Ronaldo Schemidt | AFP - Foto: Ronaldo Schemidt | AFP

 

Cerca de mil pessoas entraram em campo gritando "Maradooo, Maradoooo", como a torcida costumava fazer durante os jogos do ídolo, e aplaudiram por meia hora antes de deixar o local.

No Obelisco de Buenos Aires, nas proximidades de La Bombonera, o mítico estádio do Boca Juniors no bairro de La Boca, milhares de outros torcedores se reuniram desafiando as recomendações para manter distância para evitar infecções por coronavírus em homenagem a Maradona.

Velório na Casa Rosada

O velório de Maradona será realizado na Casa Rosada (sede presidencial) a partir desta quinta, 26, e seguirá até sábado, 28, informou uma fonte presidencial. 

"Será na Casa Rosada, a partir de quinta e até o sábado", disse à AFP Mario Huck, porta-voz da presidência para a imprensa internacional.

'Deus Maradona'

A descrença e o mal-estar tomaram conta da Argentina nesta quarta com a morte de Diego Maradona, considerado por muitos um "deus", que dessa vez ele não conseguiu driblar a morte que tantas vezes o cercou. 

"Não acredito, é uma coisa inacreditável, a gente acha que (ídolos como Maradona) podem passar por todos os obstáculos, mas vimos que não, eles acabam sendo todos mortais. Estou digerindo, me sinto em um pesadelo. Sinto que é um piada. Quero acreditar que é uma piada", desabafou Francisco Salaverry, 28, em Buenos Aires. 

Mais cedo, muitos restaurantes, bares e lojas ostentam uma imagem de "el Diego", como era conhecido familiarmente. Alguns painéis municipais, que costumam alertar sobre acidentes de trânsito, dizem "Obrigado, Diego". A bandeira argentina foi pendurada em várias varandas. 

A notícia tem impacto total no ânimo dos argentinos, já duramente atingidos pela pandemia do coronavírus e pela crise, em um país onde futebol é religião. "Tremenda notícia, outra dor para esse 2020 de merda", disse Isabel Puente, 70. 

"Hoje é um dia ruim, um dia muito triste para todos os argentinos", resumiu o presidente Alberto Fernández em entrevista ao canal TyC Sports, depois de decretar luto de três dias e suspender todas as suas atividades na quinta e na sexta, 27. 

A Igreja Maradoniana, formada por seguidores do "deus" Maradona, convocou um comício em sua homenagem às 18h00 no Obelisco, tradicional ponto de encontro das festas do futebol em Buenos Aires. 

"Não posso falar agora. Vou ao Obelisco hoje", disse Guillermo Rodríguez, fã que no dia 30 de outubro, para comemorar os 60 anos de Maradona, fez a décima tatuagem de seu ídolo, o "d10S", uma combinação de letras e números que soa como a palavra deus. Rodríguez, aos 42 anos, chora. Ele não poderá realizar seu maior sonho de abraçar o camisa 10. 

Gabriel Oturi, 68, diz estar "totalmente chocado, dolorido". "Vou ser franco, acho que ele era um grande cara que não teve boas relações ao seu redor, que se aproveitavam muito dele". 

Em cada uma de suas quedas e recaídas, consequências do uso de drogas ou do excesso de álcool, muitos apontavam para o "entorno" de Maradona. Nesse ambiente, sempre respondiam que ninguém conseguia lidar com ele. Em sua última hospitalização após uma operação na cabeça no início de novembro, ele teve que ser sedado para evitar que fosse embora do hospital.

"A dor do país"

"A dor do país. Fim de uma era", resumiu Julia, 57 anos, em uma rua de Buenos Aires. 

O estilo provocador e rebelde do ex-capitão da seleção argentina no México-1986, e também comandante da Alviceleste na África do Sul-2010, agregou admiradores e torcedores, mas também inimigos, contra os quais soube usou sua língua afiada. 

"Tchau, Diego! Obrigado, Diego!", escreveram as Mães da Praça de Maio-Linha Fundadora no Instagram com a foto de um encontro entre Maradona e a líder do movimento, Taty Almeida. 

Nos arredores de La Bombonera, o mítico estádio do Boca Juniors do qual Maradona foi jogador e torcedor, alguns torcedores choram e se abraçam. 

Desde que o camisa 10, que ergueu a taça na Copa do México em 1986, e deslumbrou o mundo com o pé esquerdo, ele não parou de despertar paixões no seu país. Não foi apenas uma conquista esportiva, o segundo título mundial do Alviceleste, mas também se tornou um símbolo do desafio ao poder estabelecido. 

Ninguém na Argentina esquece seus dois gols contra a Inglaterra nas quartas de final (2-1) daquela Copa do Mundo no México: o primeiro, a famosa "mão de Deus", como ele mesmo batizou seu gol, marcado com a mão, e o segundo após uma corrida prodigiosa com a bola presa ao pé que costuma ser descrita como o melhor gol da história da Copa do Mundo. 

"Poucas vezes na minha vida senti a dor que hoje me invade, poucas vezes senti tantas alegrias como naquele 29 de junho de 1986 quando tocamos o céu com as mãos, o mesmo céu que hoje escurece e nos enche de lágrimas", escreveu. Mauricio Passadore, um fã de Maradona, lembrando aquela partida histórica. 

Ele era "um deus errante, sujo e pecador. O mais humano dos deuses", escreveu um anônimo cujo texto se tornou viral nas redes sociais.

 

AFP//A Tarde/// Figueiredo

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